TEXTOS e POEMAS

VAMOS EXALTAR A BELEZA DA PALAVRAS ESCRITAS POR ALUNOS DA  UATI
SE VOCÊ TEM ALGUM TRABALHO QUE QUEIRA ESTAR PUBLICANDO AQUI, É SÓ ME ENVIAR.




27.05.2012

A gaivota
de Nair Mello


Hoje eu vou contar um pouco da minha história.
Eu sou uma gaivota que nasceu em uma bonita
mata fechada, às margens da represa do Broa,
pertinho de uma cidadezinha chamada Itirapina,
no interior do estado de São Paulo.
Eu sou muito feliz, apesar de nunca ter descoberto
quem foi a minha verdadeira mãe. Nós, as gaivotas,
nascemos aos milhares, e consideramos todas as gaivotas que nos
trazem alimento como sendo nossas mães. Lembro-me que era bem
pequenininha e várias gaivotas adultas me trazendo comida na boca e me
dando abrigo. Por isso, só quando fiquei mais velha é que descobri que
eu tinha uma única mãe biológica.
Desde pequena eu adoro repousar em árvores, escalar rochas e voar por
vários 
lugares diferentes. Mas não sou só eu não; todas as gaivotas são educadas

para 
serem independentes e logo passam a se alimentar sozinhas.

Aprendi a mergulhar na represa e pescar lambaris e outras espécies de peixes
pequenos ainda na juventude. E também gostava dos dias em que apareciam
os banhistas para fazer piquenique. Eu sempre aproveitava para comer seus
restos de lanche. Mas, certo dia, comi umas coisas engorduradas e passei mal
do estômago. Doeu muito, porém, aprendi que os seres humanos comem
muita porcaria e que, para uma gaivota, o melhor mesmo é comer um peixe
fresquinho.
Também me orgulho de ser branca como a neve e de ter pernas longas. Fico
vaidosa quando ouço as pessoas elogiando a minha beleza. E também me
lembro de um dia em que estava me lavando quando alguém falou em Deus e
que ele ficava no céu. Eu fiquei com tanta vontade de conhecê-lo e voei o mais
alto que pude para encontrá-lo, mas não consegui...
Acho que vou parar de falar. Já estou ficando com fome e estou vendo um
cardume fresquinho se aproximando...

Sol, a nota musical 
que virou canção

de Laura


Certa manhã, quando eu ainda era uma garotinha, ela entrou sem bater em 
meu coração e ali se alojou e disse:


 -  Olá! Sou a nota Sol, a mais bela da escala musical e que enriquece a 
harmonia de todas as músicas. E tenho orgulho de dizer que você vai crescer e tornar uma mulher cheia de vida e alegria,
graças a minha ajuda. E não tenho vergonha de dizer que eu sou a nota que mais viaja pelo mundo,

estando nos cantos devocionais de todos os povos, e também no vento que 
balança as folhas dos galhos e no cantar dos pássaros. E faço questão de estar presente no som impactante que emerge  no 
momento em que as águas da cachoeira batem nas rochas e até nas famosas "areias que cantam", na cidade de Brotas.

Também viajo no som do apito do trem, na sirene da ambulância, na buzina do 
automóvel e no canto da mãe que embala o sono de seu bebê. Estou presente 
no “tim tim” das taças, no canto do rouxinol, na voz do trovador, na roda de pagode, no piano da orquestra, no tambor da tribo...
Enfim, eu sou o “astro rei" das notas musicais, e como a nota mais envolvente e encantadora, vou animar sua vida e com a minha energia...

E hoje, eu me pergunto: O que seria de mim se não fosse o “Sol” brilhando em
meu coração? Eu teria a energia necessária para cantar ao vento o despertar
de uma nova era, cheia de amor e esperança?
O Jacaré alegre
de João



Você pode não acreditar, mas existe no 
parque ecológico um jacaré muito especial 
chamado Alegre. Ele adora andar de ônibus 
e, além disso, é vegetariano, detesta comer 
carne.

Dias atrás, ele precisou ser levado para 
São Paulo e se meteu em uma grande 
confusão. Ele ia fazer mais um exame 
de rotina no Zoológico de São Paulo, 
mas, no bairro da Lapa, o motorista 
parou para fazer um lanche e não 
reparou que a porta do carro tinha 
ficado aberta. Alegre, imaginando que já 
tinha chegado ao veterinário, desceu tranquilamente.

De repente, uma multidão começa a gritar e a sair correndo, chamando a 
polícia. Alegre estava dentro do mercado da Lapa e percebeu que aquele 
alvoroço era por sua causa. Todos estavam com medo. Ele queria dizer que, 
apesar de estar com fome, não comia carne. Mas ele não sabia falar. Temeu 
por sua vida. Imaginou que sua pele em breve se transformaria em mais uma 
bolsa de madame. Mas, felizmente, uma criança, olhando bem no olho de 
Alegre falou:

 - Esse jacaré é bonzinho. Ele não come carne. Ele só está assustado com tanta 
confusão.

A fala do garotinho deixou as pessoas mais tranquilas. Algumas até se 
aproximavam e passavam a mão nele.

Uma outra pessoa disse:
 - É verdade, eu já vi esse jacaré. Ele gosta de andar de ônibus e é vegetariano. 
Ele vem todos os anos para fazer exame de rotina em São Paulo.

Depois de falar isso, teve uma ideia e falou:
 -  Podemos coloca-lo em um ônibus e manda-lo até o zoológico. Depois é só 
avisar que ele está chegando.

E, assim, Alegre conseguiu chegar até o veterinário, para alivio do motorista do 
carro que não sabia onde tinha perdido o jacaré e, para o próprio Alegre, que 
viveu naquele dia uma aventura e tanto.




Um cão feliz
de Elisabeth Gomes





Eu me chamo Dove, nome carinhoso que meu dono me deu após não resistir aos
meus afagos e lambidas. Sou um cão de sorte, moro em lar onde recebo muito
carinho.
Meu dono sempre me leva para passear pelo bairro e fico penalizado quando
encontro cães sobrevivendo de sobras de alimentos que encontram em sacos de
lixo. Os humanos acham isso um problema, pois enxergam apenas as ruas sujas.
Não percebem que os cães precisam saciar a fome.
Essa semana encontrei meu amigo Napoleão, que durante muito tempo viveu
abandonado pelo bairro. Assim que o vi, perguntei a ele:
_ Olá Napoleão, como está você?
_Olá, eu estou muito bem. Você se lembra daquele moço que eu sempre seguia
até a padaria, e na volta eu o acompanhava até o seu portão para ganhar um
pãozinho? Pois é, num dia de chuva ele me chamou para entrar e me adotou,
moro com ele até hoje e estou muito feliz.
_ Mas o que você está fazendo na rua sozinho se agora você tem um lar?
_ É complicado amigo... como vivi muito tempo abandonado não gosto de ficar
preso dentro de casa, fico latindo, arranho o portão até que ele me deixa sair um
pouco. Mas foi bom encontrá-lo passeando com seu dono. Senti saudade do meu e
por isso vou voltar para casa, até qualquer dia...
Me despedi de Napoleão e continue meu passeio pensando em como seria bom se
os humanos adotassem os animais abandonados.


O imã
de Dulce Julião



Eu me chamo Energia e sou um jovem imã. Fui criado para atrair coisas como
ferro, aço, arame e outros tipos de materiais similares. Desde pequeno, tenho
tanta força que sempre atraí coisas pequenas, o que todos esperavam; mas
também as grandes... Porém, com o avanço da tecnologia, eu fiquei encostado
durante muito tempo dentro de uma caixa, em uma suja edícula, no fundo do
quintal de uma casa.
Não tinha mais utilidade para nada e assim fiquei anos e anos me sentindo
abandonado, até que resolveram desmanchar a edícula e jogaram a caixa no
lixo, com tudo que tinha dentro.
Lá no aterro, um catador de lixo, bem idoso, me achou. Passou a mão sobre
mim, balbuciou algumas palavras que não entendi e me jogou novamente no
monturo.
Não sei que magia era aquela, mas comecei então a atrair tudo que era coisa
ruim e até pessoas doentes e sofredoras.
No começo foi muito bom porque via as pessoas indo embora mais felizes.
Achava tudo aquilo bastante engraçado e divertido, mas com o passar do
tempo, aquilo foi se tornando uma tarefa penosa e aborrecida.
As pessoas ficavam bem, mas eu me sentia mal, deprimido e muito cansado.
Já não tinha vontade de atrair pessoas, ainda mais as doentes.
Queria ser útil, queria descansar, não queria ficar jogado em uma caixa no
fundo de um quintal, mas também precisava de um tempo de paz só para
mim.
Não passou muito tempo e outro senhor, velhinho me encontrou e disse:
_ Ah! Então é aqui que você está? Que você se esconde? Vou dar para você
uma nova missão. Vou levá-lo para minha casa e você me será de grande
serventia!
Colocou-me numa bela moldura e me pendurou na parede e disse:
_ Alô rapaz! Vou acabar com essa sua vidinha monótona. Vou lhe dar uma
missão. Como eu sou costureiro, o que você acha de ser o meu guardador de
nacos ferrosos?
Como poderia eu responder a ele?
Dessa maneira, ele foi pendurando em mim alfinetes, colchetes, pregos,
tesouras, moedas, tampas de latas que encontrava pelo chão de sua
residência. E toda vez que isso acontecia, ele dizia:
_ Está feliz agora meu amigo?
E, enquanto falava, me pendurava mais uma tesoura, outro imã, uma gilete... E
eu me sentindo realizado, vivendo a vida que sempre sonhei...



A nuvem Fofinha
de Odila de Lima


Passo horas e horas a observar as nuvens, principalmente de manhã. Elas me
trazem alegria e disposição para enfrentar o resto do dia que se anuncia. E, dias
atrás, passei uma manhã inteira observando uma nuvem bem pequena e
bonitinha. Resolvi chama-la de Fofinha. Achei que este era o nome ideal para ela,
tamanha graça que tinha.
Observando aquela nuvem, comecei a lembrar da minha infância. Lembrei-me de
como eu e minhas amiguinhas brincávamos muito e desde aquela época eu já
gostava de olhar para o céu e observar as nuvens, imaginando formas para elas:
Umas se assemelhavam a brancas pombas; outras lembravam flores e até animais.
Era maravilhoso ver as nuvens se transformando e alimentando a nossa fértil
imaginação.
Porém, quando crescemos, abandonamos a visão pura de criança e as nuvens
passam a ter outra função. Elas passam a indicar que vai cair do céu uma
tempestade daquelas de arrasar as casas e causar enchentes nas cidades. E nos
preocupamos apenas com os transtornos que poderemos ter quando a moça da
TV anuncia a previsão do tempo com trovões, raios e outros fenômenos. Nem nos
lembramos de que depois da chuva pode aparecer um lindo arco-íris para encantar
o nosso olhar e nos ajudar a se lembrar de que tudo passa.
Para os cientistas, a nuvem não passa de um agregado visível de pequenas gotas
de água ou cristais de gelo suspensos no ar. E eles também se preocupam com as
formas das nuvens, mas não como as crianças. Os cientistas vão classificá-las em
altas, médias, baixas e com desenvolvimento vertical. Criam prefixos para
identificá-las, por exemplo, chamam de cirro as que são tênues e fibrosas, ou
estrato as que têm grande extensão horizontal.
Porém, nenhum destes nomes criados pelos cientistas consegue expressar a
emoção que senti ao ver aquela nuvenzinha que chamei de Fofinha. Ela me fez
lembrar da infância e de minhas amigas. Nela vi diferentes formas: gatinhos,
árvores, casais enamorados, entre tantas outras. Não existe palavra que expresse o
prazer de acompanhar a dança das nuvens no céu, especialmente da minha nova
companheira, a Fofinha.



O papagaio Louro
de Maria de Lourdes Galassi



Os meus pais moravam em uma bela fazenda chamada
Recreio e que ficava próxima da cidade de Jaú. Lá sempre
tinha novidades, pelo menos para nós, as crianças. E eu me
lembro muito bem do dia em que o meu pai ganhou um
papagaio de um pedreiro chamado Chico. Ele ia sempre à
fazenda fazer pequenos reparos.
O papagaio cresceu na fazenda e adorava falar. Tudo que ele
ouvia, reproduzia. E, um dia, o meu pai caiu na besteira de
falar que o Chico era porco, que não tomava banho por causa
de uma mancha de tinta que ele tinha na cabeça.
E não é que sempre que o Chico chegava na fazenda e
chamava pelo papagaio, dizendo o seu nome: Louro, Louro,
cadê você?...
Na hora o papagaio começava a falar:
_ O Chico é porco, o Chico não toma banho...
O meu pai corria desesperado para tirar o papagaio de perto
do Chico. E, toda vez que precisava fazer alguma reforma, ele
primeiro escondia muito bem o papagaio para evitar novos
constrangimentos.
Mas, para as crianças, era pura diversão ouvir o papagaio
Louro falando que o seu ex-dono não tomava banho



A formiguinha Cintia
de Rute Predeger



Meu nome é Cintia, sou uma fomiguinha da hora. Trabalho o dia todo, mas
também valorizo o tempo para o meu lazer.
Um dos locais que mais gosto de frequentar é o SESC, um clube aqui da cidade
de São Carlos. Lá eu navego na internet, faço aula de dança, academia e até
participo das aulas de hidroginástica e natação.
Eu não nasci em São Carlos, mas em uma cidadezinha chamada São Joaquim da
Barra, conhecida como a cidade da Soja. Lá eu só trabalhava e cansada daquela
vida, resolvi pegar carona em uma caminhonete F1000 e vim parar aqui nesta
cidade. O dono da caminhonete nem desconfia que, atualmente, eu moro no
quintal da casa dele, escondida entre flores e pequenos buracos na parede.
E foi também graças a ele que eu descobri o SESC. Lá, ele leva a família ao
dentista e para se divertir. E foi no SESC que conheci um formigão sarado e
começamos a namorar. O nome dele é Carlito. Eu o conheci em um dia muito
especial. Primeiro, perdi minha carona para casa e tive que pernoitar no SESC.
Porém, no dia seguinte teve uma dedetização e eu não sabia o que fazer. O
Carlão apareceu e vendo meu desespero, me salvou. Ele me levou até um
esconderijo onde o veneno não chegava. Lá dentro tinha resto de bolo,
salgadinho, refrigerante e até cerveja. Passamos uma noite maravilhosa e
começamos a namorar. Ficamos um bom tempo em seu esconderijo até
podermos sair em segurança.
Nos encontramos diariamente no SESC e estamos planejando nos casar. Só não
decidimos em que quintal vamos morar, no meu ou no dele.
Hoje sou muito feliz e agradeço sempre a Deus pela vida que ele me deu.



Cantador, 
o passarinho turista







de Marly






Meu nome é Cantador, nasci na região
Norte do Brasil, na cidade de Belém,
capital do Estado do Pará. Lá é a cidade
das mangueiras e os humanos são
hospitaleiros e carinhosos.
É de lá que vem o famoso açaí, hoje
consumido no país inteiro. E para quem
é um passarinho como eu, Belém é um paraíso. Eu me esbaldo quando vou ao
mercado do ver-o-peso, ao museu Emilio Goeldi, ao Bosque Rodrigues Alves e
tantos outros locais maravilhosos.
Um dia resolvi testar minha resistência e sai voando sem parar. Quando me
cansei e resolvi pousar, descobri que estava na cidade de São Luiz, a capital do
Maranhão, famosa por seus azulejos. Ouvi dizer que esta é a única capital
brasileira que não foi fundada por portugueses. Se isso é verdade, eu não sei,
mas o importante é que lá tem praias lindas como a do Olho D'água, a Ponta de
Areia, a Praia do Meio... Foi em São Luiz que eu aprendi a apreciar alguns pratos
diferentes, na orla da praia, como camarão no alho e óleo e torta de caranguejo.
Eu gosto de ir em junho para lá e apreciar as danças folclóricas. Eu gosto de ver
o Bumba meu boi e a dança do coco. Quando vou lá, aproveito para visitar meus
amigos que moram no centro histórico e aproveito para visitar o teatro Arthur
Azevedo.
Mas como a vida não para, resolvi fazer uma viagem mais longa e vim conhecer
a famosa capital da tecnologia, após ler em um jornal que em São Carlos tinha
um viveiro de pássaros, no parque ecológico. Não gostei porque eles ficam
presos.
Mas aproveitei para conhecer outros lugares. Já fiz amizade também com alguns
pássaros que vivem na praça, em frente à catedral. Um deles é o tico-tico, que
assim que me viu, perguntou:
_ É a primeira vez que te vejo aqui, de onde vens?
E respondi que era de Belém do Pará.
Gosto de ir à catedral e observar seus vitrais e também os altares de mármore
carrara. Mas o meu sonho, antes de ir embora para conhecer outros locais desse
imenso país, é visitar a Escola Alvaro Guião por dentro. Acho aquele prédio
muito bonito.
Enfim, estou adorando minha viagem por São Carlos.









11.05.2012
O mistério das nuvens
por Silvia Helena Caruso, sexta, 11 de Maio de 2012 às 18:10 ·
O texto abaixo, de minha autoria, é dedicado aos meus filhos Livia e Matheus.

 Eu fui uma criança muito quieta, conversava com as minhas bonecas e animais e também passava horas admirando o azul do infinito tentando adivinhar como eram as coisas lá no céu...
Cresci, ouvindo frequentemente, que Deus era tão grande que poderia estar em todas as partes do mundo. Então, mergulhada no meu silêncio infantil, pensava que Deus era um gigante deitado no céu e lamentava o fato de não ter nascido numa casa do outro lado do mundo, um local onde eu pudesse estar logo abaixo da cabeça dele, bem pertinho dos seus ouvidos. Afinal... Ele só não atendia os meus pedidos porque não conseguia me ouvir, eu estava do lado errado, abaixo dos seus gigantescos pés!!!!

O céu para mim, sempre foi algo admiravelmente misterioso, em dias de sol era límpido, belo e radiante. De vez em quando, pequenas nuvens tentavam se juntar formando um desenho ou outro. À noite então, parecia estar em festa, iluminado pelo luar e salpicado de incontáveis estrelas. Porém, em dias de chuva, eu olhava para o céu e penalizada, observava o desespero dos pássaros, que assim como eu, também buscavam a luz do sol e um céu límpido e azul. E quando as nuvens escuras se apressavam, formando no infinito figuras enormes e estranhas, eu ficava amedrontada, com as mãos geladas e sentia o coração ameaçado, porque eu achava que aqueles blocos de nuvens escuras eram monstros que poderiam mudar o cenário do céu para sempre...

O tempo passou... A maturidade, a ciência e a fé me ajudaram a esclarecer os fenômenos da natureza e outras coisas relacionadas ao céu. Também, a minha maneira de ver Deus mudou um pouquinho... Ou seja, eu continuo pensando que Ele é GIGANTE, mas, não mais com aquela imagem de um homenzarrão deitado no céu.

Porém, eu só consegui me libertar da imagem dos “monstros” que eram formados pelas nuvens negras, quando meus filhos, também aprenderam olhar para o infinito com curiosidade e admiração, naquela mesma perspectiva infantil de interpretar o cenário do céu, conforme as mudanças climáticas. E enquanto eles ainda eram muito pequenos para entenderem um pouco mais sobre os fenômenos da natureza, em dias de chuva, nos divertíamos observando no céu a rápida formação de nuvens escuras e enormes.
Assim, com a ajuda deles, eu finalmente entendi que, aquelas nuvens negras eram apenas “anjos”, que bailavam no céu em dias de chuva... 

                                                                                                                             Silvia H. Caruso                                                                                                                                              11/05/2012





12.04.2012

À FLOR DA PELE

Calada.
Embaixo da lua suspiro.
O céu está tão estrelado.
Fico lembrando o passado...
Fico a pensar.
Nos dias distantes.
Quando eu me punha a admirar o luar.
Nos seus braços tão estreitada.
Parecia que o mundo dava uma parada.
Que o tempo estacionava.
Ó, naquele tempo você me amava!
E eu...
Eu lhe adorava.
Estou assim... a sentir à flor da pele sensações que o tempo guardou.
Tudo passou.
Tudo acabou.
Mas algo restou.
O que guardei.
Ó, como eu lhe amei!

SONIA DELSIN




21.03.2012
TRAVESSIA

Meu passo lento.
Minha voz na voz do vento.
Vai em forma de canção.
Vai falar ao teu coração.
Sou eu, amor.
A que te chegou em forma de flor.
A que te tocou com seu caminho de dor.

Estive atravessando um deserto.
Morria de sede, de calor.
Meu oásis!
Eu te encontrei.
Quando quase sucumbia.
Quando morria.

Me estendeste a mão.
Cai no teu colo bom.
Fui me despindo da couraça.
Mostrando minha desgraça.


E tu?


Tu me acolheste.
Me sorriste.
Descobri-me na tua essência.
De fatos antigos tomei consciência.

Era te buscando e me purificando que atravessava os desertos.
Se meus passos foram incertos?

Não. Era pura expurgação e era também construção.

E acima de tudo uma busca.
Sim. Eu te buscava porque a luz do teu farol nunca se apagou no meu ser.
Acontecia, porém, que eu precisava passar pelo sofrer...
E um dia te encontrar.
Na verdade foi um reencontro.
Um reencontro em teu olhar.

SONIA DELSIN
 




16.03.2012
NOITES DE MINHA ALMA

O frio me açoita. Maltrata.
A chuva neste corpo frágil escorre como cascata.
É noite.
Noite de minha alma.
Dentro de um sonho uma criança se banha com a chuva forte.
E chega o temor da morte.
...
Já não é menina.
É uma moça...
Aquela que queria agarrar o mundo e dançar com ele.
Pra isso precisava se armar de coragem.
...
Nem moça é mais.
Então chega a paz.
Chega o momento de dar a luz.
A vida a conduz.
Os meninos nascendo... correndo...os meninos lendo...os meninos do seu coração vivendo.
...
Já é outro tempo...
Tempo de agora.
O difícil da hora.
E a chuva continua.
E a chuva insiste e ela resiste.
Resiste à noite, ao temporal.
Resiste ao mal...
...
Um fiapo de luz chega contando.
Uma manhã nova está chegando.
A noite é finda.
E a manhã que chega é linda...

SONIA DELSIN
 



15.03.2012
VOLTAR NO TEMPO

se eu pudesse
voltar no tempo
se eu pudesse
voltar 
naquele momento
o tempo é igual ao vento
passa
leva
leva tudo para o abismo do nada
rio
dou gargalhada
a vida é
uma grande piada
rio
mesmo quando coração chora
chora porque tudo vai embora

Sonia Delsin
 




ESTES TEXTOS FORAM  ESCRITOS PELOS ALUNOS DO PROFESSOR ADILSON MARQUES, DEIXANDO  A IMAGINAÇÃO SE PERDER PELA BELEZA DAS PALAVRA. TRABALHOS EXPOSTOS NA BIBLIOTECA PÚBLICA MUNICIPAL DA VILA PRADO.
Aqui vou postar esses trabalhos diariamente, assim seu prazer pela leitura, aumentará, e você provavelmente voltará para se deliciar com um novo texto.

Biblioteca Pública Municipal da Vila Prado




Textos Publicados:

DONA MARTA LAGARTA - Silvia
FINAL FELIZ - Arlete
SONHOS DE ONTEM, DE HOJE E DE SEMPRE... - Geni Aparecida
O MAL-ENTENDIDO - Maria Angélica Coppi
A CADEIRA - Jovino Bueno
UM SONHO QUE JAMAIS ESQUECI - Jovino Bueno
SONHOS - Lúcia Ferreira
O COLIBRI -Maria Aurea   
O IPÊ AMARELO - Maria Teresinha
A BORBOLETA FELICIDADE - Eliane Gadelha
UMA VIDA DE FUSCA - Benedicto Oliveira 
MARCINHA - A PEDRINHA - Claire S. Marino 
LUCK LANGO, A CALOPSITA - Geni Aparecida Olivari
MINHA POESIA - Jovino Bueno
SONHOS OU NECESSIDADES - Claire S. Marino
UM ZÉ NA VIDA - Almeida





 Um Zé na vida


Almeida

Nasceu sem festa e sem comemorações; pelo contrario, foi uma preocupação. Era uma boca a mais para alimentar, pois o salário que o senhor Pedro, seu pai, recebia, mal dava para a comida e as necessidades mínimas da família.
O nome foi escolhido sem dificuldade: José, que era também o nome do avô, e rapidamente abreviado para Zé. Na infância, ainda tinha o carinho do diminutivo Zezinho. Porém, mais tarde, voltou a ser somente Zé.
Pequeno e magrinho, pois em casa a comida não era farta, vivia apanhando dos outros meninos da rua e ganhou um sem número de apelidos. Tinha tudo para crescer tímido, introvertido e ignorado pelo mundo. Arredio e ensimesmado, depois de muito pensar chegou a uma conclusão: se quisesse ser alguma coisa na vida precisava fazer mudanças de rumo.
Assim, no período que não estava na escola, arrumou trabalho no armazém de secos e molhados do “seu” Manoel que, apesar de sovina e pagar muito pouco, tinha bom coração e quando o Zé, depois de muito ensaiar e criar coragem, falou-lhe das suas angústias e preocupações, interrompeu seus afazeres e em tom paternal confidenciou-lhe:
- Quando tinha a sua idade também tivera as mesmas preocupações e havia decidido optar por ganhar dinheiro, o que me parecia ser a única arma que poderia tornar-me respeitado e progredir na vida. Mas hoje, já com mais de cinqüenta anos, vejo como conquistei muito pouco. Tenho um comércio pequeno que só me permitira constituir família e continuar trabalhando sem parar. E entre sacos de batata e latarias vejo passar a vida, vivendo a rotina do compra e vende sem nenhuma outra perspectiva de ampliar meus horizontes... Zé, trabalhar é preciso, mas ouça o que eu digo: estude, aprenda, valorize a você mesmo através do conhecimento. Se não fizer isso, você nunca será mais do que eu sou: ter uma família para sustentar; trabalhar o dia inteiro para a noite afundar-me em um sofá que, de velho, já me cutuca as costas; ver televisão que de tantos crimes que mostra só me deixa preocupado com o dia seguinte... Depois de cinqüenta anos parece que vou morrer não muito diferente do que eu era quando tinha sua idade; sem nada que me permita sonhar com algo diferente do que uma aposentadoria que não vai ser suficiente e continuar trabalhando...
Naquele dia, Zé foi para casa mais devagar, contando os passos e pensando em tudo o que “seu” Manoel lhe dissera. Jantou quieto e foi dormir.
Na manhã seguinte, Zé levantara assobiando e a mãe o olhava de soslaio, intrigada e se perguntando por que o filho estava diferente e alegre como há muito tempo ela não o via. Depois de ele tomar o café magro com o pão que já era da antevéspera, ela não se conteve e perguntou:
-  Por que você está tão contente?
- Mãe querida, eu tomei uma decisão: vou mudar a minha vida porque estou cansado de ser apenas Zé e quero ser José de Oliveira Neto, que é o meu nome de batismo.
E sem dizer mais nada, pegou sua bolsa e foi para a escola. Sua professora estava surpresa; o Zé, que nunca perguntava nada, não parava de questionar e pedir que lhe explicasse aquilo que não havia entendido. No final do mês suas notas estavam já próximas dos primeiros da classe e não demorou dois meses para que fosse o primeiro.
No armazém do “seu” Manoel também as mudanças foram notáveis: era o mais gentil e o mais prestativo. Essa mudança de atitude começou a lhe render gorjetas dos fregueses e um aumento de salário. Apesar da sovinice do patrão, este deu de bom gosto porque o movimento aumentara.
E no dia da formatura, na escola, o diretor deixou o seu diploma para ser entregue em ultimo lugar, pois junto com ele vinha outro de honra ao mérito e um cheque que uma indústria dava todos os anos ao aluno que se formasse em primeiro lugar.
- Agora quero chamar José de Oliveira Neto para receber seu diploma e seu prêmio por ser o melhor aluno entre os formandos – disse o diretor. E o sorriso e as lagrimas foram simultâneos no rosto do Zé que, naquele momento, deixaria para sempre de ser somente Zé. O curso de magistério passou muito rápido e, durante o mesmo, José era constantemente solicitado pelos colegas para tirar dúvidas e, nas festas cívicas, era sempre convidado para falar.
Depois de quase quarenta anos de magistério, e sempre considerado como referência de qualidade e dedicação, aposentou-se. Na festa de despedida que os amigos e colegas lhe ofereceram, perguntaram a ele que presente queria. Sem titubear, José disse que ficaria muito feliz se pudesse continuar como voluntário cuidando da biblioteca da escola e convivendo com as crianças. Muitas delas o chamavam de avô e a todas dedicava afeição e carinho. Graças a ele muitas deixaram de ser apenas um Zé na vida.
Certo dia os alunos, professores e familiares dele estavam reunidos à porta da biblioteca quando o diretor disse solene:
- Convido a senhora Maria de Oliveira a descerrar a placa que dá nome a esta biblioteca onde durante tantos anos o nosso saudoso professor José trabalhou voluntariamente.
Contendo as lágrimas ela descerrou a placa onde se lia:
Biblioteca Professor José de Oliveira Neto,
que dedicou sua vida, a vida de todos nós.
  

        
Dona Marta Lagarta


Silvia
Dona Marta Lagarta era muito enjoada, mas prestimosa. Gostava de enfeitar-se e maquiar-se. Ainda era jovem e queria muito aproveitar a vida. Ela lia muito e estudava a vida dos animais. Por isso, queria comer muito e passar por uma transformação que sabia que aconteceria em breve em sua vida.
Em uma tarde ensolarada, enfeitou-se toda com colares de grãos de areia e resolveu andar pelo jardim pensando em como seria bom arrumar um belo namorado. Desceu do galho onde morava e foi para o jardim. Este ficava em uma escola infantil e era muito florido, parecendo com o do Castelo da Cinderela. Era a primeira vez que descia da árvore e ficou admirada com tanta novidade.
Feliz da vida, dona Marta Lagarta andou o dia inteiro! Fez tanto esforço que, de repente, se viu morrendo de fome. Olhou para o lado e viu uma batata frita que caiu de algum pacote. Deu uma mordidinha e achou salgada. Arrepiada, Disse:
- Isto não serve para comer...
Andou um pouco mais e viu um chiclete de bola que alguma criança jogou na grama. Deu uma mordidinha nele e disse, com a boca colada:
- Que coisa engraçada! Isto não serve para comer...
E, logo adiante, avistou um biscoito de chocolate sendo atacado por formigas. Aproximou-se e deu uma mordidinha e achou aquilo torrado demais para o seu gosto e disse:
- Esta massa também não serve para comer...
Resolveu descansar embaixo de uma flor e acabou adormecendo. Sonhou que tinha um namorado horroroso e acordou assustada, exclamando:
- Nossa, que pesadelo! Deve ser por causa da fome...
Deu uma espreguiçada e continuou sua jornada em busca de alimento. Perto dali encontrou uma bala de mel e achou-a melada. Andou mais um pouco e encontrou um picolé derretendo, jogado por alguém que não gostou do sabor. Deu uma mordidinha e disse:
- Que coisa gelada! Isto não serve para comer!...
Ela estava com muita fome e nada que encontrava no chão agradava o seu paladar. Até que, felizmente, encontrou várias folhinhas verdes, caídas de um belo pé de amora. Experimentou e disse:
- Que coisa gostosa! Isto sim é que serve para comer!
Dona Marta Lagarta comeu sem parar! Comeu várias folhas. Com o estomago cheio, subiu no pé de amora e se enrolou toda, dormindo sem perceber que estava perto dos brinquedos onde as crianças ficavam durante o intervalo. Uma criança sapeca, a Sophia, viu a lagarta e comentou:
- Que lagarta nojenta! Vamos matá-la...
E uma coleguinha observadora disse-lhe:
- Não... Ela não vai durar muito tempo.  A professora disse que as lagartas passam por uma transformação. Vamos acompanhar...
E assim, toda a classe resolveu acompanhar a transformação da lagarta Marta. Perceberam que ela começou a construir um casulo com material expelido pelo seu próprio corpo. Todos os dias elas iam observar o casulo.
Algumas crianças até chegaram a pensar que ela havia morrido, pois o tempo passava e nada da transformação acontecer. Porém, em um belo dia de sol, dona Marta Lagarta saiu de seu casulo na forma de uma bela borboleta colorida e voou...
As crianças ficaram admiradas e a professora disse que devemos seguir o exemplo daquela borboleta, considerando cada dia como sendo um dia abençoado e agradecer sempre a Deus a oportunidade que Ele nos dá para transformar o mundo, usando a força infinita que está dentro de nós.



Final Feliz
Arlete
Você se lembra do livro “Uma história com mil macacos”, de Ruth Rocha? Pois é, sou um deles e meu nome é Lola. Sou uma macaca adulta e muito feliz.
Para chegar até aqui foi uma grande aventura. Eu fui caçada na floresta e enviada para cá por causa do erro do telegrafista que, ao invés de comprar alguns macacos para o pesquisador, errou na conta e mandou trazer centenas.
Apesar do medo que senti, estava confiante que ficaria na companhia de meus amigos, mas me decepcionei. Fiquei perdida na cidade por causa do caos na estação ferroviária. No meio da confusão, fugi e fui parar no alto de uma árvore.
Felizmente, uma menina de nome Maria, acompanhada de sua mamãe, me viu e disse:
- Mamãe! Coitadinho do macaco... Ele esta solitário lá encima. Talvez esteja com fome e ninguém se importa com ele.
Eu queria dizer para ela que eu era uma macaca, mas não tinha como.
Sensibilizada, a mamãe falou:
- Maria, hoje mesmo vou falar com seu pai. Ele trabalha no zoológico e saberá o que fazer...
Eu fiquei mais tranqüila e aguardei na árvore. No mesmo dia, ele veio com uma equipe e, no dia seguinte, lá estava eu no zoológico, comendo do bom e do melhor.
Logo me acostumei com os finais de semana, com a alegria das crianças que vinham me visitar. Algumas até me ofereciam bananas, doces e outras guloseimas enquanto eu fazia minhas macaquices. Mas eu só comia o alimento balanceado fornecido pelo zoológico, pois sou uma macaca preocupada com a saúde.
No zoológico conheci o macaco Samba. Ele já morava aqui e ficamos enamorados. Hoje tenho dois filhinhos, a macaquinha Alegria e o macaquinho Tristão. Formamos uma família feliz, mas sempre me pego pensando nos demais macacos que vieram para cá. O que será que aconteceu com eles?




SONHOS DE ONTEM, DE HOJE E DE SEMPRE...
Geni Aparecida
Até os quinze anos de idade morei em uma casa com um bonito jardim, onde havia várias espécies de flores: margaridas brancas, palmas de várias cores, hortênsias azuis, dálias amarelas, onze horas e outras.
Eu gostava tanto delas que, numa certa noite, quando eu tinha mais ou menos dez anos, aconteceu uma coisa engraçada. Eu tinha uma prima que morava em uma fazenda e estudava a noite e, por isso, sempre pernoitava em casa, dividindo comigo o mesmo quarto. E quando ela chegava da escola eu já estava dormindo e não a via. Somente no dia seguinte, pela manhã, que conversávamos. E, naquela ocasião, durante o café, ela perguntou se eu me lembrava de alguma coisa ocorrida durante a noite.
Eu estranhei e perguntei a ela:
- O que você quer saber?
- Quando chequei, ontem a noite, você estava sentada na cabeceira da cama e dava a impressão que procurava alguma coisa. Eu chamei, mas você não respondeu e se deitou. Você se lembra disso?
- Sim. Sonhei que estava procurando flores.
- Flores? Para que flores?
- Não sei, o sonho acabou aí.  
Demos risadas do fato e continuamos a tomar café. O tempo passou e me esqueci da história até que, dezesseis anos depois, um priminho de cinco anos que só queria brincar com pipa e que não tinha interesse por nenhum outro brinquedo, adormeceu, enquanto eu lia para ele um livro de história. Logo em seguida, começou gesticular com a mãozinha como se estivesse empinando uma pipa. No dia seguinte, ele também não se lembrava de nada. Na hora me lembrei da história das flores e passei a acreditar que talvez, na infância, esse tipo de ocorrência seja comum.
É fascinante pensar no sonho. Muita gente tenta desvendá-lo, mas sem sucesso. Nos sonhos entramos em contato com lugares desconhecidos, com pessoas que a gente tem a sensação que conhece, mas não consegue se lembrar de onde, com situações que a gente nunca imaginou vivenciar... Será que o sonho nos remete ao tal de universo paralelo? Será que existem dois mundos que se complementam? Será que vivo dormindo ou sonho acordada? Enfim, será que o sonho e a realidade não passam de duas faces da mesma moeda?


O MAL-ENTENDIDO




Maria Angélica Coppi

Mariana estava com duas viagens marcadas durante as férias. Viajaria entre os dias 13 e 19 com sua família e, no dia 30, com os alunos da escola que frequentava.
Ao chegar à escola, foi até a secretaria e disse:
- Bom dia, eu vim pagar a viagem do dia 30. Estou ansiosa por este passeio...
A secretária a recebeu com carinho e lhe disse:
- Vou anotar aqui no caderno que você já pagou a sua passagem.
Porém, a secretaria pegou o dinheiro e, entretida com outros afazeres, esqueceu-se de anotar que Mariana tinha feito o pagamento.
O tempo passou e quando chegou o dia 30, Mariana acordou na maior expectativa. Aquela seria sua primeira viagem com os demais alunos da escola. Levantou-se, preparou o café e saiu radiante de casa.
 E qual foi sua surpresa ao chegar à escola e, ao tentar subir ao ônibus, foi parada pela professora que lhe disse:
- Você não está na lista; você não pagou a viagem.
Mariana ficou surpresa e afirmou que tinha feito sim o pagamento. A professora, ao perceber o equivoco da secretária, a deixou subir, mas o dia não foi mais o mesmo. Mariana chorou muito. Ela se magoava à toa. Ela ficou preocupada com o que os outros pensariam dela. Com tantas minhocas na cabeça, a viagem foi terrível para ela.
Uma das maiores causas de infelicidade no mundo é o mal-entendido. Um desentendimento não imediatamente corrigido pode prolongar indefinidamente uma sensação de mal-estar entre as partes envolvidas.
Há casos em que uma pessoa não tenta corrigir um equívoco a seu respeito, pensando: “Deus sabe que estou com a razão. Mais cedo ou mais tarde, tudo se esclarecerá” e não sofre com a situação.
Mas Mariana, mesmo por um motivo banal, magoava-se facilmente e o problema assumia um aspecto monstruoso. Assim, mesmo com o esclarecimento do fato, ela continuou muito triste e não aproveitou a viagem.

 



A cadeira
Jovino Bueno


Sentado em uma cadeira depois de muito exercício físico, comecei a pensar em como ela é um objeto útil. Muito cansado, comecei a cochilar, e ouvi uma voz me dizendo o seguinte:
- Nós somos muito mais úteis do que você pensa. Formamos uma família muito extensa e estamos espalhadas pelo mundo inteiro. Algumas são mais confortáveis do que outras, mas tudo depende da necessidade. Você nos encontrará em todas as repartições públicas, nas faculdades, nos hospitais, nos bares e restaurantes, nas residências... Apesar da importância que temos, nem sempre os humanos nos dão o tratamento que merecemos. Algumas pessoas nos maltratam, mas sem uma cadeira ninguém vive. E são raros os que agradecem a Deus por ter a presença de uma cadeira ao seu lado.
Em algumas faculdades nós somos muito bem conservadas. Algumas pessoas até nos tratam com carinho. Lá trabalhamos muito, em dois ou mais períodos, conforme o local. É muito cansativo, mas procuramos serenar a mente de quem precisa estudar.
E nos hospitais? Lá somos como um médico. Ouvimos as reclamações dos doentes e tentamos dar um pouco de conforto para aqueles que esperam tanto tempo para serem atendidos. E temos até que agir como fisioterapeutas, dando apoio aos idosos como se fôssemos um medicamento.
Mas é nas residências que nos realizamos. Gostamos de ser queridas pelas pessoas que trabalham o dia todo e, à noite, procuram uma de nós para descansar.
E nem preciso dizer que a última ceia dos Apóstolos com Jesus Cristo só foi possível porque nós estávamos lá. Preciso dizer algo mais sobre a nossa importância?
Nesse momento eu acordei. Não sabia dizer ao certo o que tinha acontecido. Mas tudo o que ouvi era verdade. Ao me levantar, após ter descansado bastante, disse para a cadeira:
- Você é a minha maior amiga. Sem você eu não sou ninguém, minha querida cadeira.
E parece que eu a ouvi dizendo:
- Quando você estiver cansado procure sempre uma cadeira. Não precisa escolher muito, pois ela vai te dar o conforto que você precisa. Mas nunca se esqueça de agradecer a Deus por disponibilizar uma cadeira sempre perto de você.




 UM SONHO QUE JAMAIS ESQUECI

Jovino Bueno


Aos seis anos de idade eu gostava muito de subir nas árvores de casa para apanhar e saborear seus frutos. Passava quase o dia inteiro procurando e comendo frutas, coletadas na hora.
Laranja, mexerica, manga... Eu gostava de todas as frutas que existiam no pomar. Mas o meu encanto era com um lindo pé de amora que ficava carregado todos os anos.
 Quando chegava a época dos frutos, eu passava boa parte do tempo em cima daquela amoreira. Eu não sei se foi uma coincidência ou se minha preocupação era tanta que sonhei com um bando de macacos invadindo o quintal para atacar o pé de amora.
Fiquei desesperado e fui defender minha fruta preferida e comecei a brigar com eles. De repente, quando fui dar um soco na boca de um macaco, ele foi mais ligeiro e me mordeu a mão. Eu gritei e sai correndo.
Era mais ou menos duas horas da manhã e acordei com a minha mãe entrando no quarto e, assustada, perguntando:
- O que aconteceu com você?
- Mamãe eu briguei com um bando de macacos e um deles me mordeu a mão. Olha! Ainda está doendo.
Minha mãe, mais calma, me disse:
- Meu filho, você apenas sonhou! Não existe macaco nenhum.
Mas eu fiquei tão assustado que, por uns quinze dias, não entrei em meu quarto com medo de ter algum macaco lá dentro.




Sonhos
Lúcia Ferreira
Fui uma menina feliz, porque tive uma riqueza muito grande: saúde e uma família maravilhosa.
Morei em uma casinha simples com meus pais e meus irmãos. A casa não tinha forro. Ao se olhar para cima era possível ver as telhas já escurecidas pelo tempo. Quando chovia era preciso cobrir as cabeças com cobertas para não sentir os pingos da chuva caindo no rosto.
Eu caminhava todas as manhãs sentindo a grama molhada pelo orvalho em meus pés para ir à escola. Lá, gostava das aulas de contação de histórias. A professora era muito amável com os alunos.
Sempre que podia, levava flores para ela, que as recebia com um sorriso, e dizia atenciosamente:
- Obrigada. Que Deus te abençoe!
Na hora do recreio, brincava de ciranda e comia o lanche que a minha mãe preparava para mim.
No período da tarde, saia com minhas primas para trocar idéias e confidências, e fazer as lições de casa que a professora passava para nós.
Nas férias eu tinha mais tempo para contemplar os pássaros, ouvir seus cantos e admirar suas belas cores e plumagens. Meu pai gostava de imitar os pássaros, ele reproduzia o canto do pica-pau, do sabiá e de muitos outros. Ele também criava coelhos. O meu preferido era um coelho cinza de listrinhas pretas nas costas. Adorava vê-lo se alimentar de graminhas verdes.
Minha mãe sempre me dizia que quando eu crescesse e tivesse meus filhos deveria contar para eles a bela infância que eu tive em contato com a natureza.
Apesar de tudo isso, eu sonhava sempre a mesma coisa: que estava perdida na estrada em que caminhava de mãos dadas com meus pais. Eu ia com os pés descalços e sentia a terra e as pedrinhas embaixo dos pés.
De repente tudo ficava escuro e ventava muito empurrando para longe os meus pais. Eu ficava sozinha e perdida sem achar o caminho de volta. Eu gritava, mas eles não respondiam. Eles haviam sumido na escuridão. Eu ficava com medo e começava a andar pelo caminho que ficava cada vez mais estreito e mais escuro. De repente, eu me via dentro de um buraco.
Eu fazia muito esforço para tentar sair e acordava assustada. Felizmente, era só um sonho. Eu acordava na minha cama, mas muito cansada e suada. Este sonho sempre se repetia, mas, graças a Deus, isto nunca aconteceu na minha vida.
Depois de adulta nunca mais tive este sonho. Hoje costumo sonhar com a minha mãe que já faleceu. Eu a amo muito e é bom senti-la perto de mim mesmo que seja em sonho. Estes dias também sonhei com o meu avô, já falecido. Ele estava feliz e sorria para mim. Parecia muito real.
Eu acordei com uma agradável sensação de alegria e com muita saudade e lembrei-me da infância, quando o visitava. Em sua casa, eu pegava a mão dele e beijava. E minha avó sempre me oferecia café com leite e um pedaço de bolo...
É bom sonhar com as pessoas que amamos. É como senti-los ao nosso lado nos protegendo e nos ajudando a lembrar dos bons momentos passados juntos.



O COLIBRI

Maria Aurea                        

Em certa manhã, conheci um colibri. Tratava-se de um pássaro pequenino, colorido, tão formoso, mas muito preocupado com o bem estar da comunidade onde vivia. Ele era muito ansioso... Por essa razão, batia as asas com incrível rapidez, indo de um lado para outro. Sua preocupação chegava às raias do absurdo. Por ser muito emotivo, sofria com os problemas dos habitantes da sua comunidade. E também pensava muito em sua casa, em seus filhotes e com a alimentação dos mesmos. E como era inseguro com relação ao futuro deles.

Apesar de tanto sofrimento, era um pássaro que amava as plantas, os animais e toda natureza, tendo uma predileção especial pelas flores que colorem e enfeitam a vida.

Mas, o seu verdadeiro problema, era não perceber que existiam no mundo animais falsos e hipócritas. Como prezava muito as amizades sinceras e sentia muito prazer em reunir a numerosa família, fator de muita alegria para ele, achava que todos pensavam e se comportavam como ele.

E como era estudioso esse colibri! Passava parte do tempo livre adquirindo conhecimentos, estudando outros seres, quer da sua espécie ou de outras, buscando novas informações culturais. Porém, todo o seu conhecimento era teórico. Faltava-lhe a experiência de vida.

Em sua ingenuidade, aproveitou um dia ensolarado para passear e voar para lugares longínquos de sua casa. Quis aproveitar o dia para conhecer novas paragens, outras cidades e contemplar a exuberância da natureza. Mas como é um pássaro de temperamento tímido, preferiu voar sozinho.

E neste dia, feliz em seu passeio solitário, o colibri parou em um lago cercado de flores, onde costumava sempre descansar. E lá estava uma raposa que saciava sua sede. Ele não conhecia aquele animal, nem tinha o visto em algum livro. E sentindo a necessidade de comunicar-se e de fazer amizade, aproximou-se da raposa que, ao perceber o pássaro, iniciou um diálogo:

- Bom dia colibri! Vejo que você, como todos da sua espécie, visita as flores para alimentar-se. Você vem sempre a este local?

- Bom dia! Eu gosto de conhecer novos lugares, sempre atraído pelo perfume das flores. E gosto de parar neste lago para me reabastecer, antes de prosseguir em minhas viagens. Mas nunca te vi por aqui, você é novo no lugar?

- Sou sim, estou chegando agora. Sou uma raposa e gostaria de fazer parte da comunidade. Você poderia me apresentar aos seus amigos?

- Posso sim, com muito gosto. Vejo que você é bem falante, logo estará integrado em nosso meio.

E lá se foram os dois a conversar enquanto a raposa se apresentava a todos que encontravam pelo caminho.

- Chamo-me Edo. Sou um raposo. Fui cognominado de o “raposão Edo”.

Os outros animais ficaram com o pé atrás, mas como o raposo Edo se apresentava como amigo do colibri, o aceitam na comunidade. Em pouco tempo fez amizade com todos. Ele se mostrava muito gentil, se oferecendo para ajudar em tudo que fosse possível. Com sua falsa atitude, conquistou a confiança dos habitantes do local. Mas, como toda raposa, era matreiro e bajulador. Fazia rasgados elogios às criaturas mais eminentes, chegando às raias do ridículo.

Alguns meses se passaram e, após conseguir a confiança de todos, mostrou realmente quem era. O falso raposão, muito vaidoso, queria mesmo aparecer. Sagaz como era, começou a lançar mão da intriga, caluniando, prejudicando os animais de maior prestígio daquela pacata comunidade e, tanto fez, que acabou sendo eleito para dirigir a mesma.

Porém, sua gestão foi um caos e por causa de sua incompetência e falsidade, foi ficando cada vez mais isolado politicamente. Não demorou muito e todos perceberam a que o raposão Edo não merecia a confiança que nele depositaram e foi expulso daquele local.

O colibri pediu perdão aos outros animais por ter sido ingênuo e se comprometeu a tomar mais cuidado com quem trazia para dentro da comunidade.








O IPÊ AMARELO

Maria Teresinha

Sou um Ipê Amarelo vivendo em uma praça da cidade. Já fui uma semente que um funcionário do viveiro municipal cuidou com carinho até virar a muda que foi plantada por crianças de uma escola.

Eu cresci e minha vida se resume a observar as pessoas apressadas, sem tempo para nada. Sozinha no meu canto, eu fico esperando, ansiosamente, pelo mês de agosto quando começam a aparecer os meus primeiros botões e, graças a Deus, as pessoas reparem em mim, percebendo que eu existo.

No mês de setembro, quando acaba o frio, estou no meu auge, com lindas flores amarelas que chamam a atenção de todos. Sempre alguém para e diz:

- Que linda! Com ela a praça fica muito mais bonita...

Muitas pessoas vêm me ver e até me fotografar nesta época do ano. Também fico feliz com os pássaros e abelhas que se alimentam do néctar das minhas flores.

Durante décadas esta será a minha vida. Um dia, porém, vou envelhecer e serei derrubada, mas as sementes que forem espalhadas pelos pássaros, ventos e pessoas continuarão a saga dos Ipês, menosprezados em outros meses do ano, mas lembrados, na primavera, por sua beleza e imponência, e ajudando a diminuir a correria cotidiana.



A FELICIDADE


Eliane Gadelha

Há muito tempo, uma borboleta chamada Felicidade morava em um lugar distante daqui. Vivia feliz com os avós até o dia em que eles foram caçados por um colecionador. Ela se sentiu muito triste e sozinha. Não conseguia mais sorrir nem conversar com as suas amigas. Sua vida se fechou para o mundo, como se ela nunca tivesse saído de seu casulo.

Suas amigas, muito preocupadas, resolveram conversar com ela:

- O que houve com você? Por que está tão triste?

Ela não respondeu, ficou calada. Não queria compartilhar sua tristeza com mais ninguém. Ela não imaginava que um dia perderia quem tanto amava. Porém, a beleza do lugar, com suas flores, árvores e belos lagos, lhe fez pensar que estava na hora de mudar a sua vida. Se o seu nome era Felicidade, isto tinha uma razão de ser.

Contemplando o crepúsculo, tomou consciência que ela não era a única borboleta que tinha problemas e ao invés de fugir deles, resolveu enfrentá-los, sendo feliz e alegre como antes.

Ela aprendeu que o importante é:

Viver simplesmente...

Amar generosamente...

Cuidar-se imensamente...

E falar bondosamente...




UMA VIDA DE FUSCA

Benedicto Oliveira  

   
    
Sou um fusca, ano 69, muito usado, mas ainda em boas condições de uso. Muitas de minhas peças já foram trocadas, nem sempre por genuínas. Detesto ficar parado nas oficinas, mas o que fazer? O jeito é ir tocando a vida.



Eu gostava de correr muito. Também gostava de transportar crianças. Suas algazarras e seus sorrisos me contagiavam e eu ia buzinando alegremente pelo trajeto.


Porém, sempre me aborrecia quando ficava estacionado à espera do meu dono, um estudante de direito que, na volta da escola, lotava-me de moçoilas barulhentas, as suas paqueras. Também não gostava de ser rejeitado. Certa vez, uma jovem falou:


- Nossa, que fusca lindo!


E uma outra completou.


- É uma belezinha!


Porém, a terceira, estraga prazeres, falou assim:


- Isto é uma lata velha, será que ainda anda?


Eu fiquei imóvel remoendo minhas mágoas. Se pudesse, eu responderia assim:


- Saiba que eu já fui um possante carro, coqueluche do momento. Dei muito prazer e orgulho ao meu dono...


E fiquei muito emocionado quando o meu primeiro dono falou assim para uma amiga:


- Este fusca é o meu primeiro carro. Não queria vendê-lo, mas estou com sérias dificuldades financeiras. Formei-me neste ano e as despesas foram muitas. Só estou vendendo para você esta preciosidade por esta razão.


Eu me senti orgulhoso com tanta demonstração de afeto.


Minha nova dona também estudava na mesma faculdade e era uma gentil senhorita. Tratou-me com carinho. Passava, frequentemente, cera para lustrar a minha pintura.


Numa certa manhã, ela disse para mim:


- Meu amigo, vou te levar para a oficina. Quero te reformar inteirinho. Não quero te perder, pois gosto muito de você.


Fui para a retifica onde trocaram algumas peças em péssimo estado. Até o painel foi trocado e ganhei espelhos, estofados, forro e portas novas. Mas não gostei quando trocaram a minha cor, de verde por vermelha. Quando chegamos em casa, o tomate me ironizou:


- Eu também nasci verde, mas hoje, amadurecido, sou vermelho.


Não me senti ofendido. Porque, apesar da cor, minha dona me proporcionava tantos cuidados e carinhos que me faziam feliz. Eu gostava quando ela me abraçava ou adormecia em meu banco. Tudo estava indo tão bem até que ela se formou na faculdade e ficou noiva. Para comprar o seu enxoval precisou me vender.


Quem me comprou foi uma senhora balzaquiana que, para economizar, adaptou o meu motor para consumir álcool ao invés de gasolina. Isto acabou com a minha saúde, diminuindo as minhas forças. Mesmo assim, continuo fazendo o que mais gosto: servir meus donos com esmero, enquanto espero, resignado, meu último ronco.





MARCINHA - A PEDRINHA

Claire S. Marino                       
Gosto de andar bem devagar, assim eu posso olhar tudo que se passa no caminho: observar os lugares, as vitrines, as pessoas, as calçadas, as ruas...

Foi num desses passeios que me deparei com o drama de Marcinha. Ela, para quem não a conhece é, nada mais nada menos, que uma pedrinha que encontrei certo dia na rua. E hoje vou contar para vocês como pode ser sofrida a vida de uma simples pedrinha.

Estava ela sossegada e feliz naquela calçada na Rua das Flores e eis que uma chuva arrasadora caiu naquele dia e arrancou toda a calçada do lugar. Assim ficou ela solta e sem rumo naquela confusão. Ficou lá durante muito tempo, chutada de um lado para o outro, até que um garoto sapeca a apanhou e sem dó arremessou a Marcinha em direção a uma residência e, por pura falta de sorte, acabou atingindo o vidro da janela que se espatifou.

A dona da casa, revoltada, pegou a pedra e a arremessou novamente para a rua, onde ficou dias a fio sem entender o motivo de tanta violência e agressão. Alguns dias se passaram e o menino a pegou novamente entre as mãos e ela, com uma pontinha de melancolia, começou a contar as suas peripécias:

- Sou aquela pedrinha, lembras? Aquela que você arremessou na direção daquela casa e quebrou o vidro. Você ficou muito assustado e nem sabia o que fazer a não ser sair correndo e fugir dali. Eu fui arremessada com fúria de volta pra rua. Fiquei à mercê do destino, ouvindo as pessoas me xingando toda vez que em mim esbarravam, e de cães que, sempre que passavam por mim, erguiam a perna e urinavam, me deixando toda molhada e malcheirosa.

E o maior constrangimento que passei foi quando um senhor que andava arrastando os pés, devido à dificuldade para andar, tropeçou em mim e caiu. Não conseguindo se levantar passou a proferir palavras rudes que até doíam os meus ouvidos. Eu, quieta e solícita, queria ajudá-lo, mas ele enfurecido dizia:

- Foi esta maldita pedra que me derrubou!

- Nossa! Fiquei desolada, pois foi ele quem não me viu. Eu estava ali parada no meu lugar, e não tive culpa de sua queda. Creio que nenhum argumento o convenceria de que a culpa foi dele.

O garoto, ao ouvir os pensamentos da pedra, a atirou novamente no chão e saiu correndo assustado. E a pobre Marcinha, apesar de tanto sofrimento, não perdia a esperança. Em seus devaneios se transportava para lugares interessantes, bonitos e tranquilos, sonhando em ser útil de alguma forma.

Como um canal transmissor, parece que seus pensamentos começaram a tomar forma quando Maria Alice, minha filha, uma doce criatura, chegou e abaixando-se a acolheu em suas mãozinhas e com carinho disse:

- Olha mamãe, que pedra mais engraçadinha! Vou colocar o nome nela de Marcinha. Ela será a minha companhia nas horas em que você, mamãe, estiver ausente.

E foi assim que começou a nova jornada de Marcinha. Em casa, demos um demorado banho nela e Maria Alice a decorou com tintas coloridas. Além de brincar com ela, minha filha a usava para segurar os seus papéis da escola. E parecia que todos nós conseguíamos ouvir os seus pensamentos se sentindo, a partir daquele momento, importante por cuidar de papéis com muitos números e letras.

Apesar de não saber ler, Marcinha tinha certeza que eram papéis importantes e que precisavam ser cuidados com muito carinho, o que ela fazia com muita satisfação e amor, feliz por ter encontrado alguém que a tratava com respeito.






LUCK LANGO, A CALOPSITA



Geni Aparecida Olivari

Eu cheguei neste mundo no final do inverno de 2007. Foi um dia melancólico.

Estava frio, nublado... Enfim, um péssimo dia para sair da casca, mas era chegado o  momento...

Após sair do ovo, abri os olhos tentando me localizar e vi minha mãe. Ela me aconchegou e me alimentou. Com o passar do tempo foi me pondo a par do ambiente e me informando com carinho onde estávamos. Muitas aves da minha espécie moravam
lá. Aprendi que estávamos em um Criatório.

E quando minha mãe percebeu que eu já conseguia entender certas coisas da vida, ela começou a me preparar para a nossa separação, que se daria em breve. Então perguntei:

- Mãezinha, porque temos que nos separar?

E ela respondeu:

- Esse é nosso destino, meu filho. Mas não fique triste nem preocupado, pois eu jamais te esquecerei, não importa quantos filhotes eu tenha. E você será feliz porque, com certeza, vai levar alegria para onde for. Você é um garoto inteligente, esperto, carinhoso, curioso e vai gostar de conviver com os seres humanos, os seus futuros tutores.

Eu comecei a chorar, não gostava da perspectiva de deixar minha mãezinha, meus irmãos e os meus amigos. Porém, o temido dia chegou. Fazer o quê! Agora era ter paciência e ver o que me aguardava, nesta nova etapa de minha vida.

Junto com os meus irmãos e amigos fui levado para um lugar muito movimentado. A viagem não foi longa, ainda bem, porque descobri que não gosto de viajar. Sinto-me nauseado, fico com a cabeça toda zonza.

E nossa nova morada foi em um enorme viveiro, com conhecidos e desconhecidos. O tempo foi passando até que chegou um ser humano, que hoje eu a chamo de “tia”, com outro ser humano, bem menor que ela, conhecido como “criança”.

Eles olharam para nós, conversaram entre si e, por fim, me escolheram. Fiquei feliz e pensei: “Oba! Vou ter um lugar só para mim!” Mas cá entre nós, isso não durou muito, porque depois de um ano de paparicação me apareceram com uma tal de Lana.

Não gostei nem um pouco e deixei isto bem claro, mas não adiantou nada, tive mesmo é que me adaptar à novidade. Bom, mas voltando ao ponto, me levaram embora junto com comida, brinquedo e vitamina. Chegamos rapidinho e já tinha um viveiro esperando por mim. Era menor que o da loja, mas só meu. E eu pensava: “Que maravilha, enfim a liberdade!”.

Em meu novo lar eu precisava me portar direitinho e lembrei-me de minha mãezinha e de seus conselhos: minha missão era levar alegria para as pessoas.

O ser humano que era chamado de “criança” queria brincar comigo, mas tinha medo. Ela pensava que eu poderia bicá-la. Que bobagem pensar uma coisa destas! Eu sou é de paz, só quero carinho...

E quem cuidou de mim foi minha “tia”. A gente ainda não tinha muita intimidade, mas fomos progredindo. Na casa dela eu conheci outro ser humano ainda maior. Nos primeiros dias ele não ligava muito para mim, mas, com o passar do tempo, fui cativando-o e hoje o chamo de “papai”. Agora é ele quem compra minha comidinha balanceada e abastece o meu cochinho. No meu aniversário ele disse que ia fazer um bolinho de painço só para mim.

Ele me leva para passear de carro, me deixa assistir programas de esporte na TV, tirar um cochilo na rede nas tardes de sábado... A gente faz uma porção de coisas juntos.

Enfim, nos tornamos quase que inseparáveis. Nesse tempo que estou aqui, já aconteceram muitas coisas. Por exemplo, um dia me assustei quando pulei do viveiro e não consegui voltar. Fiquei sem comer e beber um tempão. Por causa do meu desespero meu “papai” fez uma escadinha para eu subir e descer sem a ajuda de ninguém.

Outro dia também levei um susto. Diga-se de passagem, eu me assusto com qualquer coisa. Eu voei para o quintal do vizinho, mas meu “papai” conseguiu me resgatar. O problema foi quando fui parar no quintal de outro vizinho. Ele, solicitamente, veio me pegar e não tive dúvida: dei-lhe uma bicada daquelas. Com raiva,
ele me prendeu dentro de um saco e entregou para minha “tia”, que pediu desculpas pela minha indelicadeza. Depois me arrependi do que fiz, mas já era tarde.

Mas a minha maior estripulia foi se perder. Achei que podia dar uma volta pelo bairro e não consegui voltar para casa. Eu ouvia minha “tia” assobiar e me chamando.

Eu até respondia, mas não conseguia achar o rumo. Minha “bússola” estava totalmente avariada. Sentindo-me perdido e apavorado, voei de um lado para outro durante horas, até que, finalmente, minha tia conseguir me localizar.

Foi por um triz que não tive um piripaque. Meu corpo tremia de medo e meu coração batia mais que um tambor. Naquela noite eu não quis saber de nada, porque não me agüentava em pé, só pensava em dormir e descansar. Mas aprendi a lição. Nunca mais sai sozinho de casa.

Estava me esquecendo de contar daquela noite em que fiquei doente. Fui parar até no veterinário por causa de uma pneumonia. Precisei tomar vários remédios, um pior que o outro. Que horror! Mas aprendi a lição... Nunca mais sai na chuva.

E foi após eu ficar doente que meu “papai”, achando que eu estava muito só, trouxe a Lana Langa para morar com a gente. Ele pensava que eu ia namorá-la, mas enganou-se. Eu não quis saber dela.

Por enquanto, não quero compromisso. A gente até faz muitas coisas juntos:
passeia, bica o almeirão no canteiro, brinca na água nos dia de calor... Nós passamos boa parte do dia juntos, mas na hora do cochilo, depois do almoço, e a noite, na hora de dormir, cada um vai pro seu poleirinho.
Minha “tia” diz que minha mãezinha pode ficar orgulhosa de mim, porque eu sou um bom garoto, e trouxe, realmente, alegria para sua casa.




Minha poesia
Jovino Bueno


A paixão é uma doença ninguém sabe como vem
Dizem que o amor é cego, quando agente ama alguém.
Começa uma amizade e se torna uma paixão,
A gente olha com os olhos e atinge o coração
Depois vem o sofrimento não tem retorno mais não.



Quando a gente ainda é novo se apaixona derrepente,
Pois alguém que gente gosta deixa nós, dependente.
Os dias se tornam longos e nos dá anciedade,
Se não se ver todos dias, ataca a tal de saudade.
Coração se acelera desespero nos invade.



Quando a gente se encontra, o coracão acelera,
Porque aqueles momentos e o que agente sempre espera,
Pois estar sempre juntinho e o momento mais gostoso
Amar sempre é bom de mais deixa-nos muito ancioso.
Coração bate mais forte, momentos são delicioso.


Eu sempre tive amor, amei, amo e vou amar,
A vida é cheia de amor, temos sempre que falar.
Amando vivemos melhor, temos sempre que lembrar,
Tudo que olhamos é bom, temos que se apaixonar.
Assim vemos um mundo lindo, sentimos prazer em olhar.


Olhamos para as belezas, sentimos muita alegria,
Pelas belezas dos campos, que Deus construiu um dia.
Fez o homem, e a mulher, com o coração sensivel.
Para viver sempre unidos, viver só é impossivel.
Porisso temos que amar, o amor é imperdível.



Quando amamos de verdade, nossa vida tem sentido,
Seguimos um caminho reto, nunca se vemos perdido.
Porque o amor nos guia, pra direção positiva.
Não temos a desilusão, nossa vida é mais ativa.
Estamos sempre de bem, sentimos a vida mais viva.


 
 
SONHOS OU NECESSIDADES?

Claire S. Marino     




Por volta dos 7 anos de idade, quando comecei a frequentar a escola, muitas coisas que eu via, queria e não tinha, passaram a ser pequenos sonhos ou pequenas necessidades. Coisas simples, mas que tinham muita importância, por exemplo: ir para a escola de sapatos e meias brancas, já que eu ia de alpargatas.

Quando chovia, eu nem conseguia andar de tão pesadas que elas ficavam. As meias, quando tinha um par, eram de algodão, mas eu queria de nylon. Estas eram mais bonitas e não desbeiçavam.

E ter uma bota de couro! Eu achava o máximo, ainda mais com meias de nylon brancas. Era meu sonho ter um par de botas e nem me preocupava se eram ortopédicas ou corretivas. Eu gostava delas e pronto.

Eu sei que muitas pessoas têm grandes sonhos. Os meus, sempre foram dentro da realidade do momento, portanto, efêmeros. Não deixaram frustrações aqueles que não foram realizados. Hoje tenho somente lembranças boas da minha infância e que merecem umas boas gargalhadas.

Por volta dos 14 anos, já adolescente, queria ser cantora. Eu achava a minha voz bonita e guardava as letras das músicas com facilidade. Eu era sempre escolhida para ser a cantora da classe. Eu cantava o dia todo e quando não cantava, assoviava. Lembro com muita saudade quando, no final de cada aula de canto (naquela época esta matéria fazia parte do currículo escolar), os coleguinhas pediam para eu cantar. E lá estava eu, à frente da classe, cantando. Na verdade, me sentia uma profissional cantando, batendo o pezinho e estalando os dedos.

Também me lembro de um concurso para novos cantores que uma emissora de rádio promoveu. Lá estava a chance que eu queria. A professora me inscreveu e eu nem me preocupei em ensaiar. O que eu queria era me apresentar de qualquer maneira.

E nem precisei mesmo de ensaios, pois, faltando alguns meses para a apresentação, o promotor do evento sofreu um acidente e morreu. Resultado: o concurso foi cancelado e junto com ele o meu sonho de ser cantora.

Mas hoje, já na tal terceira idade, posso dizer que tenho ainda um grande sonho. E como sempre aconteceu na minha vida, este também é efêmero, pois estou realizando-o todos os dias que amanhece:

Quando acordo e verifico que estou viva.

Quando abro os olhos e percebo que estou enxergando.

Quando coloco os meus pés no chão e sinto firmeza neles e nas pernas que me levam para onde eu quiser; e que posso me levantar e caminhar.

Quando percebo que as minhas mãos estão estáveis, e posso me cuidar, me pentear, me vestir, pegar a minha roupa, me alimentar.

Quando tomo consciência que a minha mente ainda está sob o meu comando e posso pensar, falar, andar, escrever, cantar, assoviar, dar risadas, me alimentar e, enfim, agradecer a Deus pela vida que me deu.

2 comentários:

  1. Estas historias e poesias vão ficar na historia por toda vida, mais devemos escrever mais isso nunca pode acabar pois nós alunos da uati não podemos deixar de pensar o nosso dia a dia maravilhoso que vivemos aqui a cada dia mais amigos(as) está chegando
    novas amizade estamos conquistando entre alunos e professores.Então e hora de novas marcas como poesias
    historias,comentarios, musicas e algos que podemos marcar nossas trajetorias. Vamos inentivar os novos
    alunos estender nossas mãos a eles para fazer-nós juntos uma grande familia. Idoso sim Velhos não.

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  2. Como conviver com o idoso

    Ivone Boechat (autora)

    1- Nunca pergunte a um idoso: qual é o segredo de viver tanto assim? Porque a pessoa não vai lhe convencer ou vai dizer que não sabe a resposta. Quem vai adivinhar como se vive anos e anos, com tanta virose, corrupção, mentira, tapeação, bala perdida, exploração... ruindade!
    2- Nunca telefone ou visite um idoso entre 12:00h e 16:00h. TODO idoso gosta de descansar nesse período sagrado.
    3- Jamais conte um problema ao idoso. Ele vai poder ajudar? Também não seja o problema do idoso: é covardia. Ele não vai ter como se defender.
    4- Nunca interfira na decisão do idoso: se ele decidiu ser enterrado ou cremado. Não fique reclamando do preço da cremação, do túmulo..Nem fique agourando e perguntando o que a família deve escrever por cima do túmulo.
    5- Nunca diga ao idoso: essa história você já me contou dez vezes. Diga a ele que a história é interessante e o ajude a resumi-la. Ele vai entender que a história é conhecida!
    6- Não estimule o idoso a se lembrar de um fato que lhe cause sofrimento. Desvie sempre a tristeza para o lado bom de tudo.
    7- Não explore a disponibilidade do idoso, lembre-se que ele já trabalhou muito e hoje não tem mais resistência, saúde e vigor para tomar conta de problemas e cachorros... dos outros. Deixe em paz o cartão bancário com o pagamento da minguadíssima aposentadoria. Vai à luta!
    8- Mude o canal da TV quando o assunto é desgraça!
    9- Ao visitar o idoso, leve algo que lhe faça bem à saúde: boa conversa, estímulos, boas notícias... palavras cruzadas, linha para crochê... uma fruta que ele possa consumir... um livro. Nas festas de aniversário e Natal, seja criativo! Chega de tanto pijama e chinelo.
    10- Lembre-se: a pessoa idosa tem todo direito à felicidade e não vai ser você que vai atormentar os derradeiros dias da vida de ninguém. Exercite a gratidão, o perdão, a solidariedade e chega de despejar lixos de traumas, tristezas antigas e carências na caçamba que a vida cismou de colocar na porta de quem lutou tanto para resistir às intempéries.

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