segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

VIDA ATIVA




 
No palco aos 50
Grupo de teatro em São Paulo conta com um time de atores que já passaram dos 50
Por Ilana Ramos

Para novos atores, subir ao palco e apresentar uma peça ensaiada com afinco por meses é uma emoção indescritível. Agora imagina se esses novos atores têm mais – às vezes, bem mais – de 50. Em São Paulo, um grupo de 45 atores prova que, para a arte, não tem idade. O teatro promove, além da possibilidades de viver diferentes papéis, amizades e diversão, sem contar o baita reforço e treinamento da memória.

"Quando eu estou lá em cima, entro numa bolha e a deixo voar. As emoções, a ansiedade, a expectativa da aula, do ensaio, da apresentação, aquela adrenalina. Tudo isso faz com que eu me sinta muito viva". A declaração tão emocionada é da atriz de 75 anos, Andréa Mendes Navarro – ou, apenas, Deinha Navarro, seu nome artístico. E ela continua, dizendo que "em cima do palco, você não vê diferenças, são todos iguais. Nível social, cultural, nada disso interessa. Somos todos iguais ali. A gente se mistura e faz uma unidade. Temos muita afinidade, é claro. Acho isso maravilhoso", derrete-se ela.

Os exemplos de Deinha representam apenas algumas das vantagens de se fazer teatro, especialmente na maturidade. Segundo o diretor do grupo de teatro do qual Deinha faz parte, Oficina dos Menestreis, Deto Montenegro, "o teatro é maravilhoso em qualquer idade. Mas ele, para quem já está na maturidade, vai rejuvenescendo. O método prioriza o contador de histórias e o idoso é, naturalmente, um contador de histórias. As pessoas que fazem teatro não perdem o lado intuitivo, o lado criança, emotivo. O teatro fala de paixão, emoção, razão, equilíbrio, loucura".

Homens, mulheres. O teatro é uma atividade perfeita para todas as idades, sexo ou cor. O professor de tênis Givaldo Alves Barbosa, de 57 anos, concorda. Ele conta que "o teatro é muito bacana. A pessoa se solta, fica menos tímida, fica mais sem vergonha mesmo (risos). É uma terapia, a gente se diverte muito. Legal é que acontecem muitas coisas inesperadas nos ensaios, a gente inventa personagens. Os erros podem ser até mais engraçados do que aquilo que estava no roteiro. É bem descontraído e a gente acaba se divertindo muito".

Deinha e Givaldo são apenas dois dos 45 alunos que fazem parte da Turma da Maturidade, projeto social da Oficina dos Menestreis, em São Paulo. Deto explica que "a turma é um curso livre, uma oficina. A ideia não é transformar ninguém em profissional, mas oferecer os benefícios que o trabalho artístico dá à pessoa. Eles têm que lidar com reflexo, percepção, autoestima. A Turma da Maturidade surgiu há cinco anos. Uma vez por semana temos um encontro de três horas onde oferecemos esse condicionamento artístico adaptado para essa faixa etária. A cada ano, apresentamos uma montagem nova. Temos proposta de seis e oito meses, divididas em dois módulos. No segundo módulo, começamos a preparar a nova montagem".

Em dezembro de 2011, os alunos da Turma da Maturidade apresentaram o espetáculo Noturno, no Teatro Dias Gomens. Deto diz que "o Noturno é uma peça que meu irmão, Oswaldo Montenegro, escreveu em 1991. O Oswaldo é um cara de show, de palco, de música e o Noturno – e todas as montagens que apresentamos – são musicais com cenas, grupos grandes. No Noturno, são cenas que falam sobre a noite de São Paulo. Elas retratam seus diversos aspectos: romântico, violento, assustador, solitário. Mas todas as montagens que fazemos são ligadas à música. Cada ano, um musical diferente".

Experiente ou não, todos podem entrar para o mundo artístico. Givaldo, tenista profissional, já estava acostumado com os olhares de uma arquibancada voltados para ele, mas Deinha nunca tinha subido num palco antes. Givaldo diz que "nunca tive medo do palco. O medo era de errar as falas, as coreografias. Mas estava acostumado com um monte de gente me assistindo". Deinha, novata, conta que "sempre tive essa tendência, mas a oportunidade só apareceu quando eu tinha 70 anos. Mas tudo bem, porque antes de apresentar a gente tem todo um preparo. Tem tempo para a adaptação".

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