UM VERDADEIRO EXEMPLO DE AMOR PELA VIDA
Diabético aos 3 anos, cego aos 21, em conseqüência
de retinopatia diabética (terceira causa de cegueira no mundo), perdi também as
funções renais aos 39, por nefropatia diabética.
Depois de cego, estudei na PUC-Rio (História) e
também fiz um curso de programador de computadores, graças ao qual pude
trabalhar no SERPRO, filial Rio de Janeiro, onde me aposentei em conseqüência de
dois transplantes:
um de pâncreas e outro de rim.
O transplante de rim foi muito especial para mim.
Além de sanar minha deficiência renal, que me obrigava a fazer tratamento de
hemodiálise, o transplante só foi
possível graças à generosidade incomum de
uma colega de trabalho, também cega, que me doou seu rim. Era a segunda vez que
me surpreendia com a generosidade de algumas pessoas, pois, antes, um outro
amigo, também cego, já havia me oferecido seu rim, porém o exame final acabou
detectando sua incompatibilidade genética comigo.
Em 1986 editei um livro, Sopro no Corpo, no qual
narrava minha história até 1985: como fiquei cego, como aprendi a utilizar a
bengala e a perder o medo e a vergonha
de ser uma pessoa deficiente e ir à
luta, como me reabilitei e consegui trabalho, aprendendo o Braille e programação
de computadores. Conto também do meu trabalho
em um centro de ajuda e
reabilitação de alcoólatras e toxicômanos, como conselheiro em álcool e drogas,
dando palestras e coordenando grupos de auto-ajuda e aconselhamentos pessoais.
Na época, o livro ficou em terceiro lugar entre os mais vendidos na área de não
ficção, segundo o Jornal do Brasil e O Globo.
Relanço agora minha obra, desta vez com o título
Sopro no Corpo; Vive-se de Sonhos, pela RiMa Editora, em que a primeira parte é
uma reedição e a segunda, inédita, conta tudo o que me aconteceu de 1985 até
hoje. Além dos dois transplantes, narro o nascimento do meu filho e mostro como
a vida dos cegos mudou com a Internet. Eu, por exemplo, com minha experiência de
programador, desenvolvi sozinho e com recursos próprios minha página, a "Bengala
Legal", www.bengalalegal.com.
Gostaria muito de contar a outras pessoas minhas
experiências. Quem sabe isso possa ajudar algumas delas a perceberem alguma
saída mesmo diante de barreiras, muitas vezes mais emocionais do que reais.
Sempre tento mostrar que a cegueira não é culpada da maioria dos limites que a
acompanham, mas, sim, a maneira como o cego é educado, com conceitos algumas
vezes distorcidos. Penso que devemos batalhar em cima da diferença, não da
igualdade. Só estaremos bem quando essas diferenças, sejam elas quais forem,
tornarem-se socialmente dignas, respeitadas e produtivas.
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